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15 de julho de 2011

Partindo!

Amanheceu uma terça-feira fria de chuva fina no Rio de Janeiro. Mesmo no inverno, 15 graus não é uma temperatura comum nem agradável ao gosto do carioca típico. Acordamos às 5 da manhã para os últimos preparativos. Malas já prontas desde a noite anterior, o avião marcado para decolar às 9, nossa preocupação maior era evitar sermos surpreeendidos por algum eventual engarrafamento (sempre tem um corno que enguiça o carro justo naquele dia que você mais precisa chegar na hora em algum lugar), ou até mesmo acidente que nos atrasasse. Assim, saímos da casa da Clarice pouco antes das 6.

Por força do inverno, era noite escura ainda quando descemos de Badu Heights, e só foi amanhecer e clarear de fato quando já tínhamos pego o ônibus pro Galeão (não consigo me acostumar com o nome Aeroporto Tom Jobim de jeito nenhum). Por bem da sorte, não pegamos nenhum tráfego por termos saído cedo, apenas um pouco de lentidão já na Avenida Brasil. Mas chegamos com tempo no aeroporto, tomamos café tranquilamente e fizemos nosso check-in logo depois.

tomando café antes do check-in
Check-in feito sem tumulto, bagagem despachada sem problemas, aguardamos o momento do embarque. Sentamos em nossas poltronas - fileira 6, janela e meio. O povo vinha embarcando pacificamente, e tudo parecia em paz naquela manhã até aparecer um grupo de gringos fazendo uma bagunça incomum. Ficamos tentando descobrir a procedência do incomum grupo de uns cinco favelados nórdicos, homens e mulheres. Poucos minutos de observação foram suficientes para chegar ao veredicto... eram americanos, de algum estado do sul ou do meio-oeste. Tememos que eles ficassem naquele estado de agitação e mantivessem o volume de voz durante toda a viagem, mas depois da decolagem e nivelação da aeronave, quando a tripulação serviu o lanche, o bonde dos texanos sossegou o facho e continuou quieto a viagem toda. Com muitas nuvens no céu em quase todo o percurso, acabamos por nos entregar ao sono, e dormimos praticamente a metade das 3 horas de viagem.

Os Famigerados Shows de Humor

Ok, posso lançar uma polêmica aqui, mas se for lido com cuidado, muitos irão concordar comigo. Aproveitarei pra tratar desse assunto logo na chegada ao Ceará, e não voltarei a falar dos ditos cujos mais pra frente. O estado é considerado um exportador de humoristas, ok. O cearense é realmente bem humorado, pude constatar isso e voltarei a tocar no assunto em postagens mais à frente. Mas os shows de humor que eles tanto se esforçam pra vender o tempo todo ao turista que chega é algo que não apetece o meu gosto, e menos ainda o da Clarice.

Independente da questão do gosto, creio que o produto "show de humor em fortaleza" é algo que vem sendo vendido de forma um tanto equivocada. Meio na base da forçação de barra. É cartaz, outdoor, panfleto, gente distribuindo... só que o produto é um só. A diversificação é pouca. Há público para o tipo de humor que os caras fazem, sempre tem. Se não tivesse, o Zorra Total não estaria mais no ar há muito tempo. Mas é de se considerar um pouco propaganda enganosa, dizer que o que há de melhor no estado são ex-participantes da Escolinha do Professor Raimundo que nem mais na mídia estão, com as mesmas piadas que você já conhece há pelo menos uns 15 anos e outras que preferia nem conhecer.

típico show de humor fortalezense
Se você for a Fortaleza, prepare-se. Em algum momento será convidado, sugerido, intimado, sequestrado, ou empurrado para um desses negócios. Se você for do tipo que gosta de piadas velhas contadas por aspirantes a Renato Aragão, de humor manjado estilo A Praça é Nossa com farinha, e acha interessante ver homens travestidos mais feios que espancar a mãe sacaneando a platéia que está comendo num buffet a peso (sério), vai fundo. Já nós, achamos que a cidade tem muita coisa melhor pra se fazer.

Chegando!

Foi um voo tranquilíssimo. Só quando já estávamos perto de Fortaleza, pegamos uma turbulência bem sacudida. Engraçado era perceber o pânico no semblante do povo que tem mais medo de voar. Mas antes que os mais religiosos começassem a incomodar suas almas, a sacolejação parou. Já era a hora de iniciar os procedimentos de descida. Ao nos aproximar da zona metropolitana da cidade, a primeira impressão do Ceará: não tem favela! Calma, não é isso... ter até tem, ainda estamos no Brasil. Claro que tem. A questão é: no Ceará não se faz laje. Seja barraco ou mansão, o padrão é ter telhado. Então, quando o avião se aproximava, e começamos a ver as casas de cima, a impressão de que os barracos não são barracos, e sim casinhas normais acaba iludindo um pouco as criaturas fluminenses acostumadas com as particularidades arquitetônicas dos Complexos do Alemão, Vilas Cruzeiro, Jardins Catarina e Morros da Mangueira da vida.

vista aérea de Fortaleza
Saímos do avião por volta de 12:30 no Aeroporto Internacional Pinto Martins, temperatura por volta dos 28 graus, notamos logo. Me livrei do casaco, parti para a vigília das malas enquanto Clarice foi procurar o banheiro. Achei o aeroporto normal, confesso que esperei algo meio trágico, mas achei semelhante (em nível de tragédia) aos do RJ. Claro, para isso levando em conta o padrão Infraero de qualidade. Já Clarice não teve uma aceitação tão boa, pois segundo o testemunho dela, o banheiro feminino estava mais para banheiro de rodoviária ou posto de gasolina, do que de aeroporto. Pelo menos no que diz respeito a odores (que eu preferi não tirar a prova se eram tão desagradáveis no wc masculino), ela reprovou com louvores e muitos "uma bosta!". Segundo ela, pese o fato de que não só ela, mas várias outras passageiras desistiram de usar o banheiro, pois estava sujo demais, com o chão molhado demais (formando aquela "laminha" sacou?) e com papel toalha transbordando para fora da lixeira. Diante disso, achei mais negócio guardar minhas saudáveis necessidades líquidas pra quando a gente chegasse ao hotel.

As malas demoraram consideravelmente a sair da esteira, ficamos por lá uns bons 15 minutos, o suficiente para nos preocuparmos com um eventual extravio. Mas graças a São Rolim Amaro padroeiro da TAM, as malas tardaram mas chegaram vivas ao destino. Dali partimos rápido para o desembarque. Passados os outdoors, banners, cartazes e distribuidores de propagandas de shows de humor, chegamos ao desembarque, onde a moça do receptivo nos aguardava. Dali, pra van da empresa, e simbora pro hotel. Conversamos um pouco com ela e com o motorista, conferimos detalhes do pacote, comentamos da diferença de temperatura (13 graus) entre Fortaleza e o Rio, e fomos dando uma olhada no caminho, analisando o "jeitão" da cidade. Fortaleza é uma cidade interessante. Eu sabia que era uma cidade grande e que vinha se desenvolvendo nas últimas décadas, mas ainda assim me supreendi com uma metrópole de quase dois milhões e meio de habitantes.

A tarde estava encoberta, o sol aparecia ocasionalmente, mas o calor era presente. Chegamos ao hotel, nosso querido Holiday Inn, na praia de Iracema, próximo ao centro da cidade. Achamos o hotel show de bola, bem localizado e confortável. Clarice logo que chegou, começou o reconhecimento do ambiente, já que pra alguém formada em turismo, esse é o seu elemento, muito mais que o meu. Há registro:

reconhecimento das instalações
Reconhecidas as instalações, decididos os lados das camas, feita a partilha dos travesseiros (firm ou soft?) não perdemos tempo, mapas impressos do google na mão, partimos para os trabalhos gastronômicos, porque a fome é negra e não poupa ninguém.



O Primeiro Almoço

Após a chegada ao hotel e de conferido o quarto, verificações de praxe de camas,banheiro, ar-condicionado e TV, lembramos que estávamos desde mais cedo sem comida, e a fome já assaltava. Tomamos nosso "roteiro" feito da junção das dicas de alguns amigos que já tinham viajado pra Fortaleza. Descobrimos que um dos restaurantes recomendados, o Tia Nair, era bem perto do hotel... Bem perto mesmo, coisa de uns 5 minutos a pé. Achamos a melhor opção. Decididos a começar nossas aventuras gastronômicas nordestinas, não precisamos muito tempo para decidir nossa escolha: pedimos um prato chamado Mariscada, que na verdade não é de marisco. É um espetão tipo de churrasco, com camarão, peixe (nesse caso era filé de garoupa), e lagosta.

Comida para os famintos...

Acompanhado de arroz à grega, fritas e um pirão, só que diferente do que acompanha os peixes daqui do sudeste. Acho que a farinha que usam é outra, o pirão é mais fino. Mas o sabor, ah! Se existe orgasmo alimentar, tivemos múltiplos. Testemunhem:

De pertinho...
Depois dessa "provinha" dos frutos do mar de Fortaleza, o plano era voltarmos ao hotel, eu rolando e Clarice flutuando igual ao cachorro dos biscoitos caninos. Mas resolvemos desgastar o almoço pelo menos até estarmos em condição de sentar ou deitar. Sério, parecíamos um casal de jibóias. Partimos em direção centro de Fortaleza pra pegar uns pontos de referência, e dar uma olhada no jeitão da cidade.


De Iracema ao Dragão do Mar

Saímos andando pela praia de Iracema, onde fomos ver a famosa estátua da tal Virgem dos Lábios de Mel. Ao que parece existem 2 Iracemas, uma que fica bem perto do nosso hotel, e outra que fica na direção oposta, próximo à famosa feira de artesanato. A que fica próxima ao hotel achamos uma estátua até estilosa, quando vista de longe. Como monumento até funciona. Mas de perto, coitada da índia... é a magrela com a bunda mais caída do mundo, quem vê a estátua de perto não tem como não reparar. É aquele tipo de característica que você tenta não ver, mas fica pulando na sua frente o tempo todo. A despeito disso, o entorno do monumento é até bem espaçoso e bem projetado, só achamos que poderia estar um pouco melhor conservado. Algumas pichações aqui e ali, mas nada no nível de barbarismo que encontramos no RJ.

Uma das bonitas passarelas do centro de cultura.


Passando a estátua, indo pela praia em direção ao centro histórico, há um pier natural onde vimos jovens e adolescentes em atitude suspeita. Carioca é macaco velho, percebemos logo que era um local onde a molecada ia pra fumar seu bagulhinho (ou outras coisas mais, não quisemos investigar mais a fundo), comprar, vender, etc. A frequência era primordialmente de jovens, mas todos com aquela pinta de "walk on the wild side". Alguns repazes desciam para as pedras nas laterais do Píer para fumar, algumas das meninas pareciam fazer parte da famosa rede de prostituição juvenil caça-gringo da região. Apesar de ser um local bucolicamente bonito, a impressão de barra pesada fez com que saíssemos de lá em poucos minutos. Achamos que a orla dessa região de Fortaleza seria bastante uniforme, mas nos espantamos. Você anda por uns quarteirões com prédios modernos, bonitos e de alta classe, e de repente passa por um trecho notadamente decadente, com imóveis abandonados, pichados e moradores de rua dormindo na frente.

o Píer de terra é lindo, mas tome cuidado com os junkies

Seguimos andando pela orla e entramos mais á frente, em direção ao centro. Tentamos chegar ao Pier dos Ingleses, mas estava fechado para uma reforma, ao que parece. Como estávamos naquele trecho um tanto estranho e malfrequentado que mencionei, pensamos como poderíamos escapar para uma área menos sinistra. Vimos no mapa que o famoso Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura não estava longe, apenas algumas ruas mais à frente. Apesar de ser um horário em que não tinha todas as atrações abertas, gostamos muito do lugar. É um espaço que não serve apenas para ir ver uma exposição, nem ir ao cinema, nem tomar um café, serve para isso tudo mas também é um centro de cultura no mais profundo sentido da palavra. É um lugar amplo, com vários ambientes, uns cobertos e outros abertos, ligados por passarelas, vários níveis, além de um planetário. É um lugar que não se esgota numa visita só. Recomendo a quem for. E quando voltar a Fortaleza, com certeza irei lá de novo.

A "Rua Teresa" de Fortaleza

Depois de sairmos do Centro de Cultura Dragão do Mar, continuamos na nossa caminhada para desgastar a meia tonelada de almoço que cada um de nós consumiu.  Segundo nosso mapa, localizamos uma rua que recomendaram pra gente como um centro de moda, algo como o equivalente fortalezense pra R. Teresa de Petrópolis. Como era um caminho alternativo de volta para o hotel, resolvemos passar por lá para conferir. Aproveitaríamos para arranjar uma Coca-Cola ou uma soda cáustica pra dissolver o almoço, o que a gente achasse primeiro. Passeamos então, pela Av. Monsenhor Tabosa, "para ver as modas" como diria a minha avó. Bom, para resumir, descobrimos porque tanta gente do nordeste vai até o estado do RJ pra comprar na Rua Teresa. Não é pra dizer que as roupas do local sejam 100% feias ou estranhas... digamos que 80% é. São na maioria lojas até legais, moderninhas e bem arrumadas, mas o estilão das roupas não é lá essas coisas. Fica entre o muito mais ou menos e o bem breguinha mesmo. Coisas que até no Saara, no centro do Rio, se encontra melhor.


À medida que nosso tour pelo mundo da moda fortalezense progredia, Clarice começou a desconfiar que o povo lá acha uma sapatinha fechada na frente, com laço em cima como a dela algo semelhante a um unicórnio ou a uma nave espacial. Depois de até eu (que sou pato para essas coisas) pereceber a insistência dos olhares locais para o calçado dela, tão prosaico aqui no sudeste, ela decidiu procurar em uma loja um calçado que atraísse menos atenção dos nativos, ou que não sinalizasse tanto que a pessoa é turista.

Com essa missão a cumprir, percebemos que na Mons. Tabosa tem várias lojas que vendem aquelas sandálias rasteirinhas bem baratinho. Precisando de uma, ela decidiu depois de umas 2 ou 3 lojas. Achou uma que tinha modelos não tão fracos de aparência, e com o preço ainda naquela faixa bem econômica. Na hora de pagar, consegui vislumbrar uma cortina nos fundos da loja, além da qual podia-se ver várias máquinas de costura, matérias primas empilhadas e uma ou outra pessoa trabalhando. Fabricação própria, literalmente nos fundos da loja. Nada contra, não é pra menos que o povo dali vende suas rasteirinhas por um preço tão barato. E, ponto pra Fortaleza, não vi nenhum Boliviano submetido a trabalho escravo.

Tem de 30, tem de 20, tem até de 10, vai?

Quando já estávamos a uma altura próxima a do Hotel, paramos em uma padaria e compramos Coca-Cola para mais tarde. Já tínhamos bebido uma no caminho pela Mons. Tabosa, mas sabíamos que mais tarde poderia ser necessário ter mais à mão no frigobar. Descemos uma transversal em direção à praia já bem perto de nosso querido hotel. Chegamos, tomamos banho e simplesmente morremos, para só ressucitar là pelas 21:30.

Pra terminar...sorvete!

O sorvete é bom, mas não se vê ninguém como ela por lá.

Levantamos às 21:30 depois de um descanso absolutamente necessário e descemos. Não imaginávamos que iríamos ter pique de sair, bichos mais diurnos que noturnos que somos. Acontece que ao olhar pela janela e ver o calçadão da praia ali na frente, com muita gente indo e vindo, passeando, correndo, pedalando, patinando, muito mais e muito mais à vontade do que no Rio de Janeiro, principalmente ao lembrar que é inverno, acabou animando a gente. Fomos, dar uma olhada no movimento do calçadão, ver "qual é", vontade de dar um passeio mesmo. A noite estava bem agradável, temperatura boa, um pouco abafada até. Calor o suficiente para pensarmos na hipótese de experimentar um sorvete daqueles com sabores que só no nordeste mesmo se encontra. Quanto saímos do Tia Nair mais cedo, e nos dirigíamos ao Dragão do Mar, passamos por uma sorveteria desse tipo, e pelo fato de ser próxima ao hotel, achamos uma boa passar por lá pra ver se um sorvete de frutas da região caía bem no fim de noite.

Calçadão convidativo à noite na Praia de Iracema

Após a caminhada, passamos no "Sorvetão" para conferir o que tinha por lá. Ao que parece, o Sorvetão é uma rede concorrente, e um tanto quanto decadente do famoso "50 sabores" de Fortaleza. Enquanto este último aparenta estar no auge da popularidade turística, o primeiro demonstra ser uma franquia que já viu dias melhores. Essa vibe do Sorvetão é sentida principalmente por conta do jeitão das lojas, e pelo clima meio desinteressado das atendentes. Não chegam a tratar mal o cliente, mas operam em "modo caixa de supermercado de subúrbio". Mas ainda assim, nada que assuste alguém que mora numa cidade grande. E, justiça seja feita, os sorvetes não deixam a desejar. São melhores que a loja, e bem melhores que o humor das atendentes. Só pra constar, escolhi os sabores de jaca, sapoti e cajá. Em pleno nordeste, sorveteria com 60 sabores, eu vou pedir morango, creme ou chocolate pra quê?

O cliente é bem mais feliz que a atendente